sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Leitura e Saúde - Conheça os benefícios da biblioterapia no tratamento e cura de doenças

domingo, 1 de dezembro de 2013

Ler bons livros: Melhor forma para manter a mente ativa

Se você for um leitor voraz, sua mente não será a única beneficiária. Os efeitos positivos do hábito da leitura provavelmente recairão também sobre os seus amigos e seus familiares. Ler, particularmente livros de narrativa, pode melhorar nossa capacidade empática, como demonstra recente estudo norte-americano


 Por: Equipe Oásis

A habilidade de se conectar com as emoções dos outros, intuindo as suas convicções e antecipando os seus desejos, é conhecida como importante teoria da mente. Alguns pesquisadores da New School for Social Research em Nova York quiseram verificar se a experiência de leitura de situações literárias desenvolvidas em romances com personagens complexos e de personalidade multifacetada efetivamente melhora a nossa capacidade de entrar na pele do próximo.

Os cientistas recrutaram três grupos de voluntários que se dedicaram a três tarefas diversas: o primeiro grupo teve de ler textos narrativos de alta qualidade, todos eles agraciados com o prestigioso prêmio literário norte-americano National Book Award; o segundo teve de ler trechos de bestsellers vendidos online (histórias com personagens bastante "rasos" inseridos em situações de sabor popular e mundano); ao terceiro grupo nada foi dado para ler.

A todos, depois, foi solicitado identificar as emoções escondidas atrás de algumas expressões faciais: um teste de empatia no qual os que tinham lido romances mais "empenhados" obtiveram claramente os melhores resultados.


Os livros são necessários

O estudo dos resultados estimulantes deixou, no entanto, algumas dúvidas em suspenso: quais são, por exemplo, as situações contidas no fio narrativo que fazem – realmente – a diferença? Pode ser, perguntam alguns pesquisadores, que se trate simplesmenteforma para manter a mente ativa do maior esforço cognitivo empregado para enfrentar uma leitura "culta" o fator que incrementa também as capacidades relacionais.

A pesquisa, de qualquer modo, ressalta a importância de se viver no seio de uma comunidade que promova a leitura. Ler, sem dúvida, melhora as capacidades empáticas da pessoa.


Os "ratos de biblioteca" permanecem jovens

Outra importante pesquisa, também norte-americana, soma-se à que foi comentada acima e demonstra que a leitura e a escritura mantêm à distância o espectro da deterioração cognitiva.

Confirma-se pela enésima vez que a natureza não perdoa: no mundo natural, que é o mundo em que vivemos, tudo aquilo que não é usado apodrece ou se deteriora. No plano humano, essa verdade vale para todos os níveis da nossa existência: físico, sexual, emocional, mental, etc.

Se para evitar a deterioração do corpo físico existem as longas caminhadas, as piscinas, a ioga e a ginástica, para manter o cérebro em ação e bem treinado nada é melhor do que a prática diária da leitura e da escritura. O hábito de desafiar o cérebro com atividades estimulantes afasta e retarda o surgimento dos processos de declínio cognitivo. Isto é o que revela um amplo estudo norte-americano publicado na revista Neurology. Esses resultados confirmam aquilo que o senso comum já conhece há muito tempo.


Pensamento e memória

O estudo foi desenvolvido por um grupo de pesquisadores do Rush University Medical Center de Chicago. Esses neurocientistas monitoraram, através de uma bateria de testes, as atividades de pensamento e memória de 294 indivíduos de idade avançada. Os voluntários, que foram seguidos durante cerca de 6 anos, tiveram de responder um questionário a respeito dos seus hábitos de leitura e de escritura durante a juventude, a idade adulta e a velhice.

Depois da morte dos voluntários, acontecida a uma idade média de 89 anos, os cientistas examinaram através de uma autopsia os seus cérebros para identificar sinais fisiológicos de demência, como lesões, placas e aglomerados neurofibrilares (depósitos proteicos que se acumulam sobre as fibras nervosas). Tais anomalias são muito comuns em pessoas de idade avançada e podem causar importantes déficits de memória e de cognição.

Nos pacientes que sofrem de Mal de Alzheimer essas placas, devido a uma proteína chamada betamiloide, se depositam progressivamente sobre os neurônios tornando-os incapazes de transmitir impulsos. Alguns pesquisadores creem que esse mesmo processo pode ser uma das causas prováveis de doenças escleróticas e autoimunes como a esclerose múltipla.


Diferenças impressionantes

Os pacientes acostumados às atividades intelectivas mostraram uma taxa de declínio cognitivo 15% mais lenta em relação a quem cultivou menos os hábitos de ler e escrever.

Em particular, ficou evidente que manter um alto ritmo de leitura até mesmo em idades avançadas reduz o declínio da memória de 32% em relação à norma. Quem, ao contrário, abandona (ou quase abandona) o hábito de ler e escrever com o passar dos anos, corre o risco de uma piora da memória 48% mais rápida do que os que se mantêm ativos e em treinamento. Os dados foram ajustados também com base nas diversas quantidades de placas e aglomerados encontrados durante as autopsias. Em outras palavras, ao lado dos fatores físicos que causam demência senil, calculou-se também o peso da atividade cognitiva na prevenção e deterioração das faculdades cerebrais.

"A pesquisa confirma que tudo aquilo que, instintivamente, os muitos familiares proporcionam a seus doentes de Alzheimer funciona realmente para impedir ou retardar o avanço da doença", comenta a médica Patrizia Spadin, presidente da Associação Italiana para a Doença de Alzheimer. "Claro – continua Patrizia Spadin – a atividade 'formal' de reabilitação cognitiva conduz a resultados mensuráveis e comprovados. Mas também encontrar-se com amigos, dar um passeio, viajar, praticar um esporte, ler um bom livro, fazer palavras cruzadas e comer de modo sadio, além de influenciar positivamente o estado de humor, beneficia as células cerebrais e, portanto, a mente. Para quem se sente impotente em face de uma doença tão devastadora como a demência, é fundamental saber que essas armas existem, funcionam e devem ser usadas na batalha contra a deterioração cognitiva.

Fonte: Brasil 247

terça-feira, 22 de outubro de 2013

O hábito de leitura e sua saúde

Por Luciana Ribeiro

Os benefícios da leitura e os impactos diretos na saúde de quem lê. Todos os dias recebemos uma avalanche de informações sobre saúde, principalmente a saúde do corpo: alimente-se bem!, exercite-se com frequência!, beba água!, entre outras. Todos almejam sentir-se bem e ter bons hábitos faz parte disso. É exatamente esse o assunto que abordaremos aqui, dessa vez sob um enfoque não muito habitual, a respeito de uma prática que, apesar de todos os benefícios, poucas vezes é associada à saúde: a leitura. Se você chegou até aqui: parabéns! Você já está praticando!

 A escrita possibilitou o registro do pensamento humano e o acesso às ideias de outrem. Marcou o fim da pré-história e, desde então, alicerça a evolução do homem, permitindo que o conhecimento acumulado seja passado de geração em geração. Os registros, inicialmente gravados nas paredes das cavernas, evoluíram do papiro ao papel, até chegar ao meio digital. Hoje, os meios de acesso à informação são os mais diversos, entre eles: livros, filmes, computadores, internet. Os três últimos, por oferecerem uma interação mais dinâmica e que não exige grandes esforços, representam forte concorrência à prática da leitura.

 Um exemplo disso é o fato de muitas pessoas optarem por ver o filme ao invés de ler o livro. Ao tomar essa decisão, têm acesso à imagem projetada na tela, imaginada por outra pessoa e disponibilizada dentro dos limites permitidos pelos recursos utilizados. Por outro lado, aquelas que optam por ler o livro, constroem as imagens de acordo com o seu próprio universo e vivência, de forma única, ilimitada.

Dificilmente a película supera as imagens criadas pela mente. Estudos mostram que o tipo de imaginação gerada quando se lê um livro é muito diferente da imaginação gerada ao assistir um filme. A leitura estimula a imaginação, a criatividade, a compreensão do mundo e a autocompreensão. Por isso, quem lê o livro e depois assiste o filme, geralmente se frustra.

 Tem mais: a leitura enriquece o vocabulário, leva a uma melhor escrita, aumenta a capacidade de organizar as ideias e, consequentemente, de expressá-las, estimula a memória, estimula a criatividade, eleva a autoestima. Tantos benefícios exercem impacto direto na saúde e no dia a dia de quem lê, influenciando desde a capacidade de raciocínio e comunicação até a qualidade do sono. A leitura abre portas para novos mundos, dá acesso a outras formas de pensar, permite uma viagem sem sair do lugar.

 Aquele que não possui o hábito de ler pode começar por publicações periódicas, tais como jornais e revistas. Textos na internet também são uma boa opção. Para dar início, escolha aquela que se encaixe com o seu perfil, que vá de acordo com os seus gostos e interesses pessoais e, sobretudo, que proporcione algum grau de satisfação. Para a prática da leitura, não há tempo nem idade certos e não há contraindicação. O importante é dar o primeiro passo.

Portanto: alimente-se bem, exercite-se regularmente, beba água…e leia!


Luciana Ribeiro é Brasiliense. Graduada em Biblioteconomia pela Universidade de Brasília. Pós-graduada em Gestão Estratégica da Informação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.


Fonte: Revista Biblioo

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Gostar de ler: o desafio da educação

por Regina Wielenska

"Crianças são abertas ao mundo, depende de quem as educa, evitar que ler se transforme num castigo insensato, numa obrigação sem fim" Fim de expediente no consultório, eu saí carregada de livros e encontrei no elevador um médico, que trabalhava no mesmo prédio. Simpático, puxou prosa comigo e comentou: "Psicólogos têm essa mania de ler, né? Faz mais de 20 anos que eu não leio um texto que não seja da minha especialidade". Fiquei desconcertada, não me senti à vontade para dizer que estava pasma, inconformada com a serenidade com que ele afirmou aquilo.
Afinal, pensava eu, tratava-se de um docente numa importante universidade de São Paulo, médico respeitado na comunidade. Tornar-se muito bom em sua área do conhecimento parece que o desconectou da literatura e da subjetividade inerente aos textos do universo não estritamente científico. Aí eu me perguntei: será que ele alguma vez gostou de ler crônicas, contos, romances, ensaios e outras obras? Afinal, seu comentário parecia apenas constatar um fato, sem sinal de arrependimento, vergonha ou pena.

Lembrar dessa experiência me remeteu a outras, que me ajudaram a entender o episódio acima. No jardim da infância da escola pública onde estudei, num certo dia da semana, a classe visitava a "casa de madeira", uma construção pré-fabricada, anexa ao pátio. Aquilo era o paraíso para nós: uma professora diferente, talvez estagiária da Escola Normal (era assim que se chamava o curso de formação de professores naqueles idos da década de 60), lia histórias pra a classe ou nos propunha ouvirmos disquinhos com clássicos infantis musicados pelo compositor Braguinha. Muito cedo na vida descobrimos como as palavras e ilustrações contidas nos livros eram divertidas e interessantes.

Ao final do primeiro ano do primário (atualmente, Ensino Fundamental) a escola organizava uma cerimônia de entrega do primeiro livro, destinada aos alunos que acabaram de se alfabetizar. Cada um de nós ganhava um livro, com dedicatória da professora. Os pais estavam presentes, não faltavam aplauso e parabéns.

Do segundo ano em diante, até o fim do primário, tínhamos duas horas semanais de visita na biblioteca da escola. Cada aluno escolhia o que bem desejasse (na última semana do mês podia até ser história em quadrinho).

Na segunda série do ginásio (imagino que seja o sétimo ano do Ensino Fundamental), Dona Maria Helena, professora de Português cujo sobrenome lamentavelmente me escapa à lembrança, instituiu que teríamos uma atividade diferente das aulas convencionais. Toda quinta-feira ela passava metade da aula interpretando em voz alta um texto de autoria de algum brasileiro. O conto "Moça, Flor e Telefone", de Carlos Drummond de Andrade, foi escolhido para a estreia.

A história, em poucas palavras, começa assim: a protagonista gosta de passear pelas terras do cemitério quase abandonado, perto de sua casa. Num belo dia, arranca pela raiz uma flor que brotara, certamente ao acaso, perto de um túmulo abandonado. Mais tarde, recebe o primeiro telefone de uma longa série: uma voz indefinível, obstinadamente pede que lhe devolvam a flor que fora arrancada do túmulo. Os telefonemas continuam, até que a moça resolve levar flores à sepultura abandonada. A voz, num telefonema horas mais tarde, lhe comunica que não quer outra flor, e sim aquela que lhe roubaram... Quem não gostaria de saber o epílogo?

O toque do sino propunha o início do recreio. A professora apenas nos dizia; "que pena, continuamos na semana que vem". Com ar de quem não quer nada, acrescentava a informação de que havia ao menos um exemplar daquele livro na biblioteca da escola. Houve gente que voluntariamente ficou sem recreio, para ir à biblioteca emprestar a obra. Claro que quem terminasse de ler um conto, aproveitaria para ler o seguinte. Se gostasse do livro, buscaria então mais obras daquele autor. Foi assim que passamos a gostar de Lygia Fagundes Telles, Fernando Sabino, Clarice Lispector e outros mais.

No colegial (agora Ensino Médio) a bola da vez foi dividida entre duas pessoas também verdadeiramente com vocação para o ensino: a professora de Português, e o de Inglês, respectivamente Theresinha Lisieux Vasconcelos e Fernando Silva. Suas aulas nunca se restringiam à disciplina que lhes cabia, a tão contemporânea transversalidade curricular ainda não tinha esse nome, mas era praticada por ambos.

A Palavra, matéria-prima da comunicação, em qualquer idioma que fosse, se revelava ferramenta de mudança, de crescimento. Motivados a nos conhecer melhor, ao outro, ao mundo, explorávamos as nuances da língua. Dominando as palavras, nos qualificávamos para viajar pelas dimensões da Literatura e de outras artes, descobrir a ciência, filosofar, amar, crescer, descobrir vocações e fazer a política possível nos anos da ditadura militar. Neste fértil ambiente sóciocultural, um aluno se tornava agente da educação do outro, num positivo efeito cascata.

A biblioteca, os sebos e as livrarias se tornaram amigos meus, e também dos meus amigos. E aí eu me pergunto: por acaso alguém teria se dado ao trabalho de conduzir aquele médico, desde cedo na vida, a flertar com a beleza oculta nos livros? Talvez, para ele, ler fosse apenas uma obrigação, imposta a custo de ameaças e castigos. Ler, na sua história de vida, não se tornou um prêmio, honra, lazer, oportunidade a ser desfrutada sempre que possível, a grande chave do mundo.

Dessa turma da escola, tenho a honra de conviver regularmente com umas 20 ou 30 pessoas: todos permanecem fiéis aos livros, alguns encontram graça no estudo a ponto de continuarem a frequentar bancos escolares, no grupo há escritores, e outros são docentes. Tivemos muita sorte de estar naquela escola pública naquele exato período.

Queria ser capaz de inspirar mais educadores, através deste relato nostálgico, a se empenharem no projeto de restituir aos seus alunos o fascínio pelos livros. Isto não depende de nível sócioeconômico ou de instrução dos pais. Depende, isto sim, de compromisso, perseverança, criatividade, empenho. Crianças são abertas ao mundo, depende de quem as educa, evitar que ler se transforme num castigo insensato, numa obrigação sem fim.

Regina Wielenska
é psicoterapeuta na abordagem analítico-comportamental  

Fonte: Vya Estelar

Prática de leitura mantém cérebro ativo ao longo da vida

por Elisandra Vilella G. Sé

"Práticas de leitura ajudam a manter a funcionalidade intelectual ao longo da vida, mantendo a mente ativa e prevenindo déficits de memória e declínios das funções cognitivas - capacidade de adquirir e reter conhecimento" Imagina-se que as pessoas mais velhas passem mais tempo lendo do que as pessoas mais jovens, pelo fato da leitura ser uma atividade que não exige tanto esforço físico e a maior parte das pessoas mais velhas ser aposentada e com tempo mais livre para sua prática. Mas não é bem assim. Geralmente as pessoas mais velhas depois de se aposentarem não leem mais.
Os adultos mais velhos que leem muito são os que geralmente foram quase leitores vorazes quando jovens. Se considerarmos apenas os adultos mais velhos, que são leitores ativos, então existem certas diferenças intrigantes entre eles e seus pares mais jovens.

Os leitores mais velhos ativos passam mais tempo lendo, mas significativamente a maior parte do tempo é reservada à leitura de jornais e revistas. Isso significa que a prática de leitura dos mais velhos não é tão intensa a ponto de desenvolver e manter a habilidade da leitura, porque o conteúdo dos jornais pode ser fácil comparado às exigências de um romance de peso, por exemplo. Da mesma maneira que a falta de treino intenso reduz o desempenho de um atleta, a falta de leitura de textos, livros de ficção, romance, biografias, documentários, pode provocar um declínio nas habilidades de leitura. Não se sabe por que ocorre essa mudança nos hábitos de leitura ao longo da vida.

Muitas pessoas quando chegam à velhice sentem que já leram quase toda ficção que gostariam de ler e não querem reler obras das quais já conhecem os enredos. Os adultos jovens talvez leiam obras mais “pesadas” para aperfeiçoar-se. Os mais velhos já não têm esse impulso competitivo. Seja qual for a razão, eles escolhem leituras fáceis, tipo periódicos, jornais ou ficção leve na maior parte do tempo. Além disso, eles parecem se divertir tanto com suas leituras quanto os adultos mais jovens.

A leitura é uma “atividade interativa complexa de produção de sentidos”, ou seja, quando lemos um texto estamos captando ideias do autor, interagindo com ele, mobilizando saberes. A capacidade do uso da linguagem, que diferencia o homem de outros animais, é uma admirável capacidade de formar ideias no cérebro dos demais. Portanto, a leitura é uma atividade na qual se levam em conta as experiências e os conhecimentos do leitor, exigindo dele um conhecimento dos sistemas da linguagem (conhecimento gramatical), o conhecimento de mundo ou enciclopédico (vocabulário, conceitos, representações) e o conhecimento sociointeracional (conhecimento sobre as ações verbais, formas de inter-ação através da linguagem). Tais conhecimentos envolve, também, o saber sobre as práticas peculiares ao meio social e histórico em que vivem os leitores para que possa existir o devido reconhecimento do que está sendo lido.

Quando lemos um texto não somos simplesmente um decodificador de textos, um receptor passivo, e sim sujeitos com conhecimentos em processo de interação com o conteúdo que gostamos ou que nos interessamos em ler. Dessa forma a leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento pelo assunto, sobre o autor e de tudo que sabe sobre a linguagem. É uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, para haver a devida compreensão. As práticas de leitura ajudam a manter a funcionalidade intelectual ao longo da vida, mantendo a mente ativa e prevenindo de déficits de memória e declínios das funções cognitivas.

Estilo de vida e letramento

As práticas de leitura estão relacionadas ao estilo de vida das pessoas e ao seu grau de letramento. 

Letramento se define por um “conjunto de práticas de comunicação social” relacionadas com o uso de materiais escritos, que envolvem ações de natureza não só física, mental e linguístico/discursiva como também social e político/ideológica. Letramento não é o mesmo que alfabetização ou nível educacional, ou seja, não corresponde ao aprendizado do código escrito. O letramento se refere ao contexto e práticas sócioculturais determinadas. Tem a ver mais com o conhecimento e os usos que o sujeito tem da língua e realiza com ela, do que com a formalização do aprendizado do código escrito que a pessoa apresenta. O letramento é a habilidade de se colocar em prática todos os comportamentos necessários para desempenhar adequadamente todas as demandas de leitura. 

A deficiência visual também é um fator que prejudica a manutenção dos hábitos de leitura na velhice. A visão da maioria das pessoas mais velhas piora e a acuidade visual diminui. Estudos estimam que 23% das pessoas mais velhas são incapazes de ler textos em impressão normal. Uma solução para isso é imprimir livros com caracteres maiores. A impressão maior facilita a leitura para as pessoas com dificuldade visual. 

O importante é que se mantenham as habilidades de leitura ao longo da vida, a prática da leitura aumenta a *densidade sináptica no cérebro, aumentando o número de conexões neuronais. E a ação reflexiva dos indivíduos sobre a língua, além de possibilitar o bom funcionamento intelectual, auxilia na manutenção das competências na velhice devido ao enriquecimento de estratégias sóciocognitivas acumuladas ao longo do curso de vida, na qual se inclui a leitura e a escrita.

*Densidade sináptica: refere-se ao número de neurônios e consequentemente maior comunicação entre as células nervosas.

Elisandra Vilella G. Sé
é Fonoaudióloga, Mestre em Gerontologia e Doutoranda em Lingüística

Fonte: Vya Estelar

Biblioterapia: Por que hábito de leitura faz bem à saúde

por Alex Botsaris

"A constatação que a leitura melhora alguns problemas é clinica. Ou seja, foi percebida nos pacientes, sem que houvesse uma ideia exata de como isso ocorria. O hábito de ler ajuda na atividade cerebral: lentifica as ondas cerebrais induzindo a um estado de mais relaxamento e estimula a memória; além da influência do conteúdo da leitura"
Biblioterapia - "Não somente o ato de ler é benéfico, mas os conteúdos também são importantes para os resultados esperados. A prática da biblioterapia está em escolher conteúdos, tipos de texto, tamanho e ritmo de leitura, adequados, para o resultado esperado. Por exemplo, a leitura adequada para insônia é mais lenta e repetitiva. Não é adequado propor um texto excitante de um romance para isso. Por outro lado, muitas ficções romanceadas podem ajudar na elaboração de conflitos pessoais, e por isso estão indicadas em diferentes problemas psiquiátricos. Alguns psicóticos, como portadores de esquizofrenia, têm uma excelente adaptação a poesias e outros textos altamente simbólicos" Biblioterapia é um termo criado por médicos norte-americanos durante a Segunda Guerra Mundial. Nessa época psiquiatras que acompanhavam as tropas americanas notaram que os soldados feridos, que tinham acesso à leitura, e liam muito durante sua recuperação no hospital, tinham uma evolução melhor, em diferentes tipos de problemas de saúde, comparados àqueles que ficavam sem nada para fazer.
Baseados nessa observação, esses psiquiatras conseguiram um incentivo para dar acesso à leitura a todos os pacientes, ao mesmo tempo que começaram a investigar o efeito da leitura em alguns problemas psiquiátricos. Na sua investigação, soldados, que tinham um problema comum nas guerras, chamado estresse pós-traumático, também se beneficiaram da leitura de livros. Isso popularizou esse tratamento entre médicos militares.

Hoje em dia a VA (Veterans Administration) entidade que cuida da saúde dos militares norte-americanos possui um extenso manual de biblioterapia, com indicação para várias doenças psiquiátricas, além de disponibilizar biblioterapêutas para seus pacientes. No material da VA há indicação de uso da leitura específica para tratar depressão, ansiedade, distúrbio bipolar, transtorno obsessivo compulsivo, esquizofrenia, dependência química, programas de bem-estar, prevenção de várias doenças, distúrbios sexuais, e obviamente, em estresse pós-traumático.

Não só na experiência do VA, mas também em outros centros de pesquisa e universidades do mundo, o emprego da biblioterapia em psicologia e psiquiatria tem sido crescente. Entretanto, num segmento, o da a psicologia e psiquiatria infantil, essa técnica se revelou especialmente eficiente. Um dos pioneiros nessa área foi o psicólogo austríaco radicado nos Estados Unidos, Bruno Bettelheim, diretor por muitos anos do Instituto Sonia-Shankman para crianças psicóticas em Chicago. Ele descobriu o poder de histórias, mitos e jogos infantis sob o estado psicológico das crianças, e utilizava exclusivamente esses recursos no tratamento de seus pequenos pacientes, com resultados extraordinários. 

Bettelheim costumava selecionar um grupo de mitos e histórias, conforme o histórico das crianças, que ia contando, até descobrir qual tinha mais impacto. Em geral os pacientes sinalizavam que gostariam de ouvir novamente a história que mais se encaixava em sua problemática – e então revisitando muitas vezes a mesma história e trabalhando seu conteúdo simbólico, Bettelheim conseguia que essas crianças elaborassem seus conflitos. Hoje em dia, quase todos terapeutas de crianças trabalham com essas técnicas em virtude do sucesso relatado por psicólogos e psiquiatras em todo mundo. Bruno Bettelheim nunca usou o termo biblioterapia, mas a sua técnica, sem dúvida está dentro desse conceito.

Por que ler traz bem-estar mental?

Os estudos recentes mostram que o tipo de simbolização (e imaginação) que as pessoas fazem quando leem um livro é muito diferente daquela gerada por um filme ou outro método audiovisual. A pessoa constrói as imagens livremente em sua imaginação de acordo com seu universo conceitual. Dessa forma, ela adapta o imaginário da leitura, às suas vivências, e pode elaborá-las de forma mais eficiente, que nas experiências com recursos que possuem imagem, como o cinema. Também a leitura permite que a pessoa releia certas partes do conteúdo diversas vezes, quando há uma motivação, o que não ocorre em outros tipos de mídia. Isso reforça a importância da leitura, e o porquê da sua não substituição total por outras formas de acesso a informação e ao conhecimento.

Biblioterapia tem sido proposta para o tratamento de vários outros problemas de saúde além das doenças psiquiátricas. Uma das áreas onde há um forte benefício para o emprego da leitura é nos distúrbios do sono. Numa época onde os meios eletrônicos se expandem cada vez mais, e há indícios que essa expansão possa ter relação com o aumento dos casos de insônia e distúrbios do sono, resgatar a importância da leitura para regularizar o ritmo do sono é um avanço.

Leitura à noite pode ajudar a combater insônia

Talvez a primeira referência do uso da leitura no tratamento de insônia seja a lenda das mil e uma noites. Nela a princesa Xerazade, estaria condenada a morrer, porque o Rei Persa Xariar mandava decapitar todas esposas na noite seguinte às núpcias temendo uma traição. Ela escapa da morte contando histórias que fazem o rei dormir. Ansiando para saber o final de cada história, e agradecido por ela ter resolvido sua dificuldade de dormir, ele poupa a vida da princesa dia após dia contabilizando mil e uma noites, até que ele desiste da execução. Hoje em dia muitos especialistas em sono têm recomendado aos portadores de insônia para evitar televisão e computador no final do dia, trocando pelas páginas de um bom livro. As evidências são que ler a noite ajuda a reduzir a atividade cerebral, o que auxilia a conciliar o sono.

Há ainda referências de que a leitura habitual auxilia a minimizar o distúrbio de memória do idoso, conhecido pela sigla ARMI (age related memory impairment). Durante a leitura há um estímulo específico no cérebro que ajuda na formação de sinapses numa estrutura cerebral chamada corpo caloso. Em geral quanto mais conexões através do corpo caloso, mais conexões de memória a pessoa tem, auxiliando esse processo. Outra forma que a leitura ajuda na memória é melhorando a qualidade do sono, já que a memória transitória se transforma em definitiva nesse período.

Para ter alguns benefícios da leitura, basta começar a ler um bom livro todos os dias. Mas quando se trata de um tratamento com biblioterapia, a estratégia é mais complexa, e exige uma participação fundamental do terapeuta. No tratamento o terapeuta escolhe os livros que o paciente vai ler – que ele conhece o conteúdo – para, em seguida, conversar sobre os conteúdos lidos. O paciente pode receber uma recomendação de reler o texto, em situações específicas. Ele pode também ser estimulado a escrever ou desenhar sobre os conteúdos lidos. As vezes o biblioterapeuta pode ler os conteúdos para o paciente.

Não somente o ato de ler é benéfico, mas os conteúdos também são importantes para os resultados esperados. A prática da biblioterapia está em escolher conteúdos, tipos de texto, tamanho e ritmo de leitura, adequados, para o resultado esperado. Por exemplo, a leitura adequada para insônia é mais lenta e repetitiva. Não é adequado propor um texto excitante de um romance para isso. Por outro lado, muitas ficções romanceadas podem ajudar na elaboração de conflitos pessoais, e por isso estão indicadas em diferentes problemas psiquiátricos. Alguns psicóticos, como portadores de esquizofrenia, têm uma excelente adaptação a poesias e outros textos altamente simbólicos. 

No Brasil a biblioterapia ainda é muito incipiente. Alguns pesquisadores têm se interessado, mas a sua pratica é limitada pela falta de terapeutas treinados. Esperamos que em breve seja possível contar com mais essa ajuda para a saúde. Enquanto ela não vem, a solução é começar logo a ler um bom livro.

Alex Botsaris
é médico especializado em Medicina Complementar

Fonte: Vya Estelar

A arte de ler livros a crianças

Mafalda Milhões, Livreiras da O Bichinho de Conto e contadora de histórias 

Ler é ser, sentir, estar, imaginar, compor, reflectir e deixar-se levar.
Ler é ouvir, confiar e deixar-se ficar.

Ler é conjugar todos os verbos com o corpo todo, é sentir inquietação, vontade de viajar, correr pelo mundo e experimentar tudo. É perder a noção do tempo simplesmente à procura.

Ler é seduzir, alimentar, acordar escutas para uma aventura que só tem bilhetes de ida.

Ler é aprender a ver, a ouvir, a comer, a tactear, a cheirar.
O leitor usa os sentidos para ler mundo e a alma para acolher a memória.

Quem lê sente o  texto a dar voltas na cabeça, na boca, no coração e na barriga.
É a ler em voz alta que se esculpem as escutas e afinam os sentidos.

Do ponto de vista de um Livreiro ou de uma Livreira a Arte de Livros a Crianças implica o desenvolvimento de muitas competências que se fazem com muita paixão e o coração nas mãos. Implica sobretudo a vontade e a necessidade de abrir a porta todos os dias como quem abre um livro e se some na leitura.

Há que descobrir, encomendar, carregar caixotes, conferir, ler, reler, dar a conhecer, apresentar,  conjugar, brincar, cuidar, acolher e depois de tudo isto aquietar.
É preciso dar espaço, sentir necessidade, conhecer a escuta e descobrir o destinatário de cada narrativa. Cada livro tem um leitor à sua espera.

Por isso Ler livros a Crianças é uma espécie de recompensa. É lendo e contando que os narradores se convertem em livros vivos, textos animados que passeiam por aí. E de vez em quando sentam-se à sombra dos autores, refrescam-se com textos e oferecem o colo a quem quer sentir.

É na arte de ouvir e contar que a mediação de leitura acontece.
As crianças têm o poder de aumentar, encolher, recriar leituras a alta velocidade.
Talvez por isso, ler em voz alta ou em surdina a uma criança se transforme de imediato num desafio, uma aventura onde não há espaço para uma pessoa só.

A receita é simples:

Escolhe-se um livro a gosto.
Faz-se o refugado em metáforas, comparações e memórias.
Pisca-se o olho  com um ar cúmplice ao leitor, uma piscadela basta.
Oferece-se o colo, ajeitam-se os corpos e as escutas.
Lê-se como que conta um segredo e o sucesso é garantido.

A qualidade do momento converte qualquer história na mais fantástica de todas.

Para quem tem filhos, basta querer, pois nem o melhor contador de histórias do mundo é capaz de competir com um pai ou com uma mãe apaixonados pelas suas crias.

Para os avós, as leituras são de memória.

A minha avó era uma artista. Uma contadora de histórias que nos ensinou a arte de saber pedir outra vez.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Questões de Literatura: A leitura de torná-lo mais inteligente?

Literatura quebra a continuidade do cotidiano e nos faz parar e pensar, observa Vieira.

Patricia Vieira é Professor Auxiliar no Departamento de Espanhol e Português da Universidade de Georgetown. Ela é a autora de Vendo Política contrário: Visão na América Latina e Ibérica Fiction (Toronto: University of Toronto Press, 2011). 

 A leitura tem inúmeros efeitos, mas é difícil identificar exatamente como ele influencia cada pessoa e ainda mais difícil de traduzir esse impacto em termos de ganhos quantificáveis ​​[AFP]

Em uma reunião na universidade onde leciono, um colega lamentava que, depois de anos de pesquisa na escrita Studies, ninguém tinha ainda encontrado um caminho certo para transformar os alunos em bons escritores. Pode não ser uma solução mágica, mas a resposta para o problema está lá fora: ela está lendo! A correlação entre um ávido leitor e um escritor proficiente é bem conhecido para os pais que incentivam seus filhos a ler desde cedo e os professores que se esforçam para incutir nos seus alunos o amor pela literatura. Mas, se a conexão de leitura-escrita parece ser um truísmo, é mais complicado de avaliar o impacto mais amplo da literatura em nossas vidas. A literatura nos faz bem e, por outro lado, é bom para nós? 

Será que estamos mais felizes depois de finalmente terminar A Montanha Mágica? Será que todos os assassinos se arrepender, uma vez que li o final edificante de Crime e Castigo? Será que nos tornamos mais inteligentes, passando por Collected Poems de TS Eliot? 

Defensores da literatura geralmente tentam justificá-la em uma de duas maneiras. Alguns seguem uma abordagem utilitária e afirmam que a leitura nos faz bem, nos torna mais inteligentes e nos ensina coisas que nunca teria conhecido de outra forma. Outros preferem um argumento ético-moral e conceber a literatura como um caminho para transformar os leitores em melhores seres humanos. Vamos rever estas posições em nossa tentativa para determinar por que a literatura assuntos. 

Literatura é bom para você

Eu recentemente comecei a uma classe de graduação com foco em romances brasileiros em tradução Inglês, pedindo aos alunos por que ler literatura. Suas respostas improvisadas atingiu um catálogo dos pontos mais importantes sobre a "literatura-é-bom-para-você" lado do debate . Sem surpresa, os alunos foram unânimes em afirmar que a literatura leitura foi fundamental para a sua educação (afinal, eles estavam sentados em uma aula de literatura e foram provavelmente ansioso para estar nas boas graças do professor). 

Muitos estudantes acreditavam que a leitura lhes daria um melhor domínio da língua e melhorar a sua competência como escritores. Vários comentaram que as habilidades de análise e interpretação textual que adquiriram através da leitura e discussão de obras da literatura seria útil em outros campos de estudo e em suas vidas profissionais futuras. Alguns também mencionou que a literatura lhes oferecia insights sobre outras culturas e épocas, neste caso particular, a sociedade brasileira do século 19 e 20. Em suma, os alunos pensaram que a literatura era bom para eles na medida em que aperfeiçoou suas habilidades de pensamento interpretativas, argumentativa e crítica e ampliou seus conhecimentos. 

Numa altura em que a literatura é forçado a competir com outras formas de entretenimento, argumentos como os meus alunos vocalizado tornaram-se moeda comum. Literatura defende estresse que, na leitura, combinamos prazer com a aprendizagem e, portanto, fazer a maior parte do tempo destinado ao relaxamento em nossas agendas lotadas. Mas se a literatura nada mais é do que uma forma de adquirir habilidades e conhecimentos, ele não poderia ser substituída, por exemplo, por documentários ou por videogames educacionais?

 Outro argumento generalizado fez em defesa da literatura aponta para a sua capacidade de transformar os leitores em melhores seres humanos. Aqueles que defendem esse ponto de vista postular a existência de uma intrínseca - embora um pouco misterioso - ligação entre desfrutando de boa poesia ou romances clássicos e tomar as decisões morais corretas.
 
No entanto, o pedido de desculpas da literatura por motivos éticos e morais foi contestada pelo menos desde a Grécia Antiga. Para ter certeza, para Aristóteles, a literatura e, especialmente, a tragédia, fez-nos moralmente melhor, na medida em que nos expurgados das emoções negativas e impulsos em um processo conhecido como catarse. No entanto, Platão, professor de Aristóteles, era de uma opinião diferente. Ele achava que os poetas e as imagens falsas da realidade que girou em seus textos eram nocivos à sociedade, tanto que ele sem cerimônia os baniu de sua cidade ideal.
 
O que a literatura tem a dizer para si mesmo sobre este assunto? Como os escritores representados os efeitos de seu ofício? Visto através dos olhos de seus próprios criadores, a literatura tem sido julgado de maneira muito dura.
 
Por exemplo, em Don Quixote, obra-prima de Miguel de Cervantes, do século 17, a literatura não faz bem nem é bom para você. Na verdade, Quixote enlouquece de ler muitos dos romances de cavalaria populares na época e de tentar imitar os atos descritos nesses escritos. Mais de dois séculos depois, a mais famosa heroína de Gustave Flaubert, Emma Bovary, é conduzido ao adultério e ao suicídio depois, em parte devido à influência negativa de romances românticos, onde leu sobre amantes bonito e um estilo de vida glamuroso que contrastava fortemente com a apatia de sua própria existência.
 
A leitura tem inúmeros efeitos


Mas se a literatura não significa necessariamente torná-lo bom e não é certamente a única forma de entretenimento que é bom para você, o que é realmente para? A literatura ainda são importantes e, em caso afirmativo, por quê?
 
O problema com a maioria dos argumentos no debate sobre a leitura é que eles postulam literatura como um instrumento utilizado para atingir um determinado objetivo: ou o bem do indivíduo (que é bom para você) ou o bem da sociedade (isso te faz bem). Deixando de lado a questão de decidir se o que te faz bem não é, em última análise, bom para você, uma questão mais fundamental que surge é: por que a literatura precisa ser defendida em tudo?
 
A ansiedade para justificar a literatura é sintomático da nossa idade, quando todas as atividades devem ter um objetivo facilmente identificáveis. A dificuldade com a literatura, bem como com a música ou as artes plásticas, é que ele não tem nenhum propósito reconhecível ou, na formulação elegante de Immanuel Kant, ele encarna "intencionalidade sem propósito". Leitura certamente tem inúmeros efeitos, mas é difícil identificar exatamente como ele influencia cada pessoa e ainda mais difícil de traduzir esse impacto em termos de ganhos quantificáveis.
 
Literatura quebra a continuidade do cotidiano e nos faz parar e pensar. A experimentação linguística que é a marca do literário nos afasta do mais comum de ferramentas, a nossa língua, enquanto os elementos ficcionais de romances, peças e poemas nos oferecem um vislumbre de uma realidade que não é a nossa. Ao fazê-lo, a leitura nos proporciona uma experiência essencialmente humana: a percepção de que o que não tem necessariamente de ser, que as coisas podem ser diferentes e que um outro mundo é possível. A luta com ou o abraço de um trabalho de formas de literatura nossas esperanças e medos, sonhos e ambições. Questões de Literatura, em última instância, porque nos faz quem somos.
 
Patricia Vieira ensina no Departamento de Espanhol e Português da Universidade de Georgetown. Ela é a autora de Vendo Política contrário: Visão de Ficção Ibero-Americana Latina e (Toronto: University of Toronto Press, 2011); Cinema Português 1930-1960: a encenação do Novo Regime do Estado (Lisboa: Colibri, 2011; próxima com Continuum , 2013), e co-editor da Utopia existencial: Novas Perspectivas sobre o pensamento utópico (New York e London: Continuum, 2011).

Fonte: Al Jazeera

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O Prazer de Ler por Ler: Leitura Lazer na Biblioteca Universitária


Por Cátia Cristina Souza



No decorrer de um curso superior, uma das etapas mais significativas do aprendizado acadêmico é a pesquisa, para desenvolver essa atividade com louvor é preciso que o aluno frequente a biblioteca, é nessa hora que o bibliotecário percebe que muitos usuários não possuem intimidade com o ambiente biblioteca observando sinais que vão desde o aspecto comportamental – tom de voz por exemplo, até a total falta de habilidade na pesquisa.

Grande parte da população brasileira ainda não tem acesso à leitura, consequentemente não desenvolve seus direitos de cidadão por simples ignorância. Sabe-se que a prática da leitura é comumente e estimulada na escola, onde as atividades em geral são focadas para isso, em contramão, a teoria na realidade é que a maioria das instituições de ensino escolar não possui biblioteca, tampouco profissional bibliotecário habilitado para incentivar e promover a leitura entre os pequenos.

Os programas do governo de ampliação de acesso ao ensino superior têm permitido que jovens de baixa renda tenham acesso à faculdade e, consequentemente, à biblioteca. Seria uma falácia afirmar que apenas jovens de baixa renda não conhecem a biblioteca, infelizmente, muitos jovens de alto poder aquisitivo por falta de interesse ou até mesmo por falta de incentivo não possuem o hábito de frequentar biblioteca, existem ainda aqueles que mesmo sem condições socioeconômicas favoráveis descobriram o prazer de se aventurar no mundo da leitura.

A biblioteca deve ser ocupada segundo as necessidades de sua comunidade oferecendo um clima agradável para a pesquisa, cultura e lazer independente das limitações de ordem financeira e social. A biblioteca universitária pode ir além dos livros condizentes ao currículo proposto pela instituição e assim, ajudar a promover uma sociedade leitora. É de conhecimento geral que a leitura desenvolve um papel importante no acúmulo de conhecimentos e habilidades, dessa forma o usuário que frequenta a biblioteca com o intuito de ler por ler, pode tornar-se um exímio pesquisador.

O bibliotecário de instituição de ensino superior pode desenvolver seu papel social de incentivo e promoção à leitura em nosso país, reservando espaço em seu acervo para a “leitura lazer” aquela leitura descomprometida com o conteúdo acadêmico, mas que contribui para a formação do indivíduo. Muitas são as formas de formar um acervo descomprometido com o conteúdo acadêmico, em geral as instituições utilizam o espaço reservado para a literatura, outras vão além reservando salas com poltronas e almofadas dando mais conforto a essa prática. Nessa hora entra em prática a criatividade e habilidade do bibliotecário para formar seu ambiente de “leitura lazer”, desenvolvendo parcerias com editoras para doação de livros quiçá lançamentos cobiçados ou até mesmo campanhas entre os usuários da biblioteca, o que vale é transformar as ideias em ação de incentivo e promoção da leitura.

A missão do bibliotecário é facilitar o acesso a informação, esse profissional deve estar consciente que é um agente de mudanças. Despertar o hábito da leitura nos usuários da biblioteca universitária é ingrediente importante para o envaidecimento do ego profissional e pessoal. 

domingo, 15 de setembro de 2013

5 maneiras de ler mais livros e se tornar mais inteligente



Matéria publicada em 04/09/2013

Quer se tornar mais inteligente por meio da leitura? Uma boa ideia é aumentar o número de obras que você lê. Veja dicas que vão ajudá-lo a fazer isso

5 maneiras de ler mais livros e se tornar mais inteligente
Crédito: Shutterstock.com

Pesquisas sobre experiência de usuário mostram que cada vez mais as pessoas usam aplicativos ou recursos digitais para leitura

A leitura pode trazer diversos benefícios para a vida de uma pessoa. Com ela você expande os seus horizontes, aumenta o seu nível de cultura, ganha mais vocabulário e, em consequência, se torna uma pessoa mais inteligente. Porém, para alcançar todas essas vantagens é preciso fazer da leitura um hábito. Se você ainda não tem intimidade com os livros e quer se tornar alguém mais inteligente, veja dicas que vão ajudá-lo a ler mais livros:

1. Tenha sempre um livro

O melhor incentivo para ler mais livros é ter um exemplar sempre à mão. Leve um livro com você para onde você for, assim você pode utilizar o tempo livre para adiantar sua leitura.

2. Use os recursos digitais

Pesquisas sobre experiência de usuário mostram que cada vez mais as pessoas usam aplicativos ou recursos digitais para leitura. Se você não quer o peso de um livro, opte pela versão digital dele. Dessa maneira você pode ler no seu tablete ou mesmo no smartphone.

3. Grife as partes interessantes

É comum se distrair por alguns momentos durante a leitura e ter de acabar voltando várias páginas para entender o contexto do que está sendo discutido. Para evitar esse tipo de problema, uma boa saída é grifar o que você considera mais importante, independentemente de ser um livro técnico ou de ficção. Isso vai fazer com que você se mantenha atento ao que está lendo e evita a perda de tempo por voltar a conteúdos que você já viu.

4. Alterne leituras fáceis e difíceis

Existem leituras mais complexas que outras, o que pode desmotivar você e destruir seu interesse. Por isso, uma boa estratégia é alternar entre leituras mais difíceis e outras simples. Não é vergonha nenhuma ler livros de entretenimento, ninguém precisa ler apenas grandes nomes da literatura mundial ou obras que discutem temas profundos e complexos. Tente adaptar sua lista para que ela seja confortável para você.

5. Crie um hábito

A leitura pode ser maçante no começo, mas se tornará mais simples conforme você pratica. Por isso é fundamental que você não desista no primeiro livro que considerar difícil, vá em frente e crie o hábito de ler. Uma boa ideia é estabelecer metas. Quantos livros você quer ler no período de um mês? Aumente os objetivos conforme você perceber que a leitura está fluindo melhor.  
 

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

'Sempre li bastante', diz autora de redação incluída no Guia do Enem

A leitura foi o diferencial

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'Sempre li bastante', diz autora de redação incluída no Guia do Enem

Larissa Comazzetto aponta leitura e dedicação como fatores diferenciais.
Texto da gaúcha foi um dos cinco apontados como modelo pelo MEC.

Felipe Truda Do G1 RS

Larissa Comazzetto estudou no Colégio Militar de Santa Maria (Foto: Larissa Comazzetto/Arquivo Pessoal)Larissa estudou no Colégio Militar de Santa Maria
(Foto: Larissa Comazzetto/Arquivo Pessoal)
No dia em que recebeu o trote do curso de Medicina da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), na Região Central do Rio Grande do Sul, a estudante Larissa Reghelin Comazzetto, de 17 anos, descobriu que a redação que fez durante o Enem do ano passado foi apontada como modelo no guia do participante do exame, lançado pelo Ministério da Educação. Empolgada com a novidade, a caloura disse que a paixão pela leitura e a dedicação nos estudos foram os principais fatores que a levaram a ser uma entre cinco estudantes do país a terem os textos usados como exemplo.

“Sempre li bastante, desde pequena. Tive uma professora particular de redação, porque sabia que era muito importante e queria investir nisso. Minhas professoras sempre me disseram que para escrever bem temos de ler muito”, conta a menina em entrevista por telefone ao G1 na quinta-feira (5), após ser pintada no trote.
Orgulhoso, o pai de Larissa, o contador Paulo Comazzetto, de 49 anos, destaca o apego da filha aos livros. “Em termos de educação no país, só se consegue uma boa formação com o incentivo à leitura, e ela gosta muito de ler”, diz. “Quando ela faz aniversário, se você perguntar que presente ela quer, ela vai dizer 'um livro'. É o que ela sempre carrega junto”, acrescentou.

Foi em um livro que Larissa encontrou conforto em um dos momentos mais difíceis que enfrentou: a doença que levou a mãe, a pedagoga Lúcia Maria Reghelin Comazzetto, à morte, há cerca de quatro anos. A obra era Eu Sou o Mensageiro, de Markus Zusak. “Não sei se era o momento que eu estava passando, mas foi muito importante, me ensinou muitas coisas”, lembrou.

O tema proposto para a redação era o "Movimento imigratório para o Brasil no século XXI". De acordo com o comentário no próprio guia do MEC, Larissa demonstrou “domínio da modalidade escrita formal”. Ela cita o crescimento econômico do país como fator que atrai estrangeiros, e sugere que sejam tomadas iniciativas pelo governo para regularizar as situações dos imigrantes. Para isso, de acordo com o manual, ela usa corretamente vários recursos da Língua Portuguesa.

“O treino foi fundamental”, destaca a estudante. “No início do ano passado, quando eu estava começando o terceiro ano, eu escrevia bem, mas tinha dificuldade para montar e fazer as ligações e deixar meu texto coerente. Mas eu fazia cinco ou seis redações por semana, e treinando a gente vai pegando o jeito”, explica.

 Além do pai, Larissa aponta a mãe como uma das maiores incentivadoras da leitura. “Ela era formada em pedagogia, então tinha muito a parte do conhecimento. E como pessoa, não tenho nem como mensurar a participação dela nisso”, conta.

Também surpreendeu Larissa que a redação de Caroline Lopes dos Santos, com quem estudou no Colégio Militar de Santa Maria, também foi apontada entre os cinco exemplos. “Fomos colegas por sete anos na escola, e agora continuamos colegas porque ela também entrou na Medicina da UFSM”, contou.

Reescrita foi diferencial, diz ex-professora

A tenente Claudete Linhares Sachett, de 40 anos, foi professora de redação de Larissa e Caroline no Colégio Militar. Ela conta que ambas eram alunas muito dedicadas, e acredita que o que ajudou muito elas foi o hábito de reescrever os textos após a correção.

“A gente lançava o tema e elas escreviam. Eu fazia a correção, as anotações, o que poderia modificar e entregava. Elas reescreviam adequando com as correções. Esse foi o diferencial”, afirma a professora. Para ela, a “sede de conhecimento” da dupla também foi fundamental para o bom resultado.

Calma é o principal, diz a estudante

Larissa acabou ingressando na UFSM, após ser aprovada no Vestibular. A nota do Enem rendeu uma chamada para estudar medicina na Universidade Federal do Rio Grande (Furg), em Rio Grande, no Sul do estado. “Era chamada oral e eu não estava presente, pois já tinha passado na UFSM”, conta.

Além da dedicação nos estudos e o gosto pela leitura, ela recomenda aos candidatos do Enem 2013 que tenham calma na hora da prova. Ela lembra que, quando fez o exame em 2011, ainda antes de passar para o terceiro ano na escola, teve um desempenho semelhante ao de 2012. Na segunda vez ela sabia mais, mas estava mais nervosa.

“O que vale é ali na hora. Tem de estar calmo, se concentrar, ler e não pensar no tempo”, diz a universitária, que destaca, também, a importância do estudo. “A dedicação desde sempre foi fundamental. Sempre gostei de estudar e me dedicar”, conta.

Além das redações de Larissa e Caroline, de Santa Maria (RS), o Guia do Participante do Enem destaca os textos de Gabriela Araújo Attie, de Uberlândia (MG); Pedro Igor da Silva Farias, de Teresina (PI); e Danilo Marinho Pereira, de Belém (PA).
Reprodução (Foto: Reprodução/G1)
 
Fonte: G1

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Educadores indicam livros para você iniciar seu filho na leitura

Educadores indicam livros para você iniciar seu filho na leitura

Para ajudar a orientar pais, três especialistas em Educação Infantil recomendam quais os livros infantis essenciais para a formação intelectual da criança.
 

Educadores indicam livros para você iniciar seu filho na leitura / Foto: Thinkstock
Educadores indicam livros para você iniciar seu filho na leitura / Foto: Thinkstock

Por MADSON MORAES

Que livros escolher para iniciar seu filho na leitura? Os clássicos ou optar por livros da moda com bruxos e vampiros? O Tempo de Mulher pediu a educadores que recomendassem livros infantis e explicassem a importância da leitura na formação das crianças e jovens.
 
Para a coordenadora de Educação Infantil e 1º ano do Ensino Fundamental do Colégio Santo Ivo, Terezinha Fulanetto, que recomendou livros como "Minhas memórias de Lobato", e "Fábulas Favoritas", a leitura serve como estímulo para a criança aprender a humanizar-se, a renunciar, a perder e a ganhar. "Estimula-se, ainda, a emoção da descoberta, o desenvolvimento da segurança intelectual com formas de pensar coerentes dando a elas a oportunidade de decidir por si mesmas", explica.
 
Outra especialista é a psicóloga e psicanalista Christine Bruder, fundadora da Primetime Child Development, centro de desenvolvimento infantil para bebês de 0 a 3 anos. Ela ressalta que adultos que leem para as crianças precisam fazê-lo com entusiasmo e satisfação já que os bebês percebem o envolvimento dos pais e atribuem, a partir daí, um valor para leitura e os livros. Christine explica que não há limite de idade para começar a ler e que recém-nascidos já conseguem reconhecer o tom e musicalidade da voz da mãe e ficar interessados na narrativa.
 
 
"Quem ouve histórias e tem contato com os livros desde bebê mostra, na fase escolar, um vocabulário maior e mais complexo, discrimina melhor os sons das palavras e entende melhor textos informativos. Os recém-nascidos já reconhecem o tom e musicalidade da voz da mãe e vão ficar interessados na narrativa. Claro que não entendem ainda o significado das palavras, mas recebem o afeto e se familiarizam com os sons do idioma materno", analisa a psicóloga.
 
Para Christine Bruder, essa interação com a família favorece a formação de um vínculo de qualidade, uma vez que a maioria dos bebês responde à leitura com olhares, expressão facial e até balbucios criando um momento de muita intimidade, satisfação e reciprocidade entre mãe ou pai e o bebê.
 
"Quando um bebê cresce ouvindo histórias, ele se acostuma com a intimidade de compartilhar histórias com alguém e com o prazer intelectual que o livro e as atividades culturais proporcionam. Existem, portanto, grandes chances dessa criança continuar buscando por atividades compartilhadas e que tragam satisfação intelectual ao invés de buscar isolamento e atividades vazias de significado", explica a psicóloga.

domingo, 7 de julho de 2013

Leitura protege o cérebro e preserva a memória

Leitura protege o cérebro e preserva a memória
Ler, escrever, fazer palavras cruzadas ou desenvolver outro tipo de atividades que envolvam o processamento de nova informação e o raciocínio protege o cérebro e ajuda a preservar a memória e a capacidade intelectual ao longo da vida.
 
A conclusão é de um novo estudo norte-americano, da responsabilidade de investigadores do Rush University Medical Center, em Chicago, que provou que o facto de se ser ativo ao nível da cognição em qualquer fase da vida está diretamente associado a uma melhor performance em testes de memória quando se chega aos 80 anos.
 
Robert Wilson, coordenador do estudo, e os seus colegas, iniciaram a investigação em 1997, pedindo a mais de 1.600 adultos em idade avançada que reportassem o quão regularmente tinham ido à biblioteca, escrito cartas e procurado informações quer quando eram crianças e adolescentes, quer já depois de chegarem à idade adulta.
 
Todos os anos, os participantes foram também convidados a realizar um teste de raciocínio e memória, sendo o progresso acompanhado pelos cientistas. O estudo incluiu ainda 294 indivíduos que morreram com cerca de 89 anos e foram submetidos a uma autópsia ao cérebro para se apurar se tinham existido mudanças ao nível da cognição.
 
Destes 294 indivíduos, que fizeram, em média, seis testes cognitivos durante o estudo, 102 desenvolveram demência e 51 desenvolveram outro tipo de problemas afetando a capacidade intelectual.
 
Os investigadores mediram, numa escala de 1 a 5 (sendo 1 a menor e 5 a maior frequência), com que frequência os participantes estiveram envolvidos em atividades estimulantes para a cognição. Em média, o resultado foi de 3,2 para atividade cognitiva numa fase avançada da vida e 3,1 nas primeiras décadas de existência.

Estimulação intelectual desacelera declínio cognitivo
 
Segundo Wilson, a capacidade cognitiva, o pensamento e a memória degradaram-se 48% mais depressa nos indivíduos que não tinham hábitos regulares que passassem, por exemplo, por ler ou escrever. Entre os mais ativos a nível cerebral, este declínio foi 32% mais lento.
 
Além disso, a capacidade cognitiva deteriorou-se 42% mais rapidamente nos participantes que raramente leram ou escreveram nos primeiros anos de vida e 32% mais devagar quando estas eram atividades que levavam a cabo com regularidade.
 
Robert Wilson explica que o estudo, publicado na passada quarta-feira na revista científica Neurology, não prova que ser ativo mentalmente afaste o declínio cognitivo, mas "aproxima-nos dessa ideia".
 
"Acreditamos que um estilo de vida ativo ao nível da capacidade intelectual é bom para a capacidade cognitiva e para a saúde do cérebro durante o envelhecimento", acrescenta, em declarações à Reuters, sublinhando que atividades como a leitura, a fotografia ou a costura são boas opções.
 
De acordo com o investigador, manter-se ativo intelectualmente não deve, porém, ser um sacrifício, e o tipo de atividade realizada é pouco importante: o importante é que o cérebro não pare.

É, portanto, recomendável que a escolha recaia sobre uma atividade estimulante e desafiante que os indivíduos apreciem e possam continuar a fazer ao longo da vida.

Clique AQUI para aceder ao resumo do estudo (em inglês).

sábado, 29 de junho de 2013

Analfabetismo funcional: porque eu não li?

Prof. Marcus Garcia 
Professor Marcus Garcia possui formação na área de Educação e Tecnologia da Informação, já escreveu 16 livros, entre eles é autor e organizador da série de livros A Escola No Século XXI.

Interesse pelos livros
Interesse pelos livros

Segundo a ANL (Associação Nacional de Livrarias) o Brasil fechou 2012 com 3481 livrarias em operação das quais 49% estão instaladas nas capitais dos 27 estados e no DF e as 51% restantes nas demais cidades. O Brasil tem aproximadamente 197 milhões de habitantes. Isto significa que há aproximadamente 1,8 livrarias para cada 100 mil habitantes.

Os dados do IDEB (Índice para o Desenvolvimento da Educação Básica) de 2012 divulgados pelo MEC dão conta de 192.676 estabelecimentos de educação básica e que atendem 50.545.050 alunos. Destas escolas apenas cerca de 64 mil possuem biblioteca. Portanto temos 0,8 biblioteca para cada mil alunos.

O déficit de leitura no brasileiro é assustador. O Instituto Pró-Livro realizou em 2011 um estudo no qual foram entrevistadas mais de 5 mil pessoas em 384 municípios brasileiros. Alguns números da pesquisa revelam pistas sobre porque o analfabetismo funcional vem sendo identificado de forma contundente entre alunos concluintes do ensino médio e também superior. É considerada analfabeto funcional aquela pessoa que apesar de conseguir ler as palavras, não consegue entender e consequentemente não consegue interpretar a mensagem de um texto de até 10 linhas com até três parágrafos.

Interesse pela leitura
Interesse pela leitura
A pesquisa revelou que cerca de 50% da população brasileira cultiva o hábito de leitura. Deste percentual a média é de quatro livros lidos por ano. Para comparar com outros países na França a média e de 12 livros lidos por ano, na Espanha 11, nos Estados Unidos 10, na Argentina 6 e no Chile 5 e na Colômbia 2. Na Noruega, maior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo, este número impressiona, mas não pela quantidade de livros lidos por ano, cerca de 16, mas pelos 96% população que cultiva o hábito.

O incentivo dado ao estudante para ler e descobrir através dos livros um universo mais amplo do que o próprio livro deveria começar na escola, mas vemos que quase 70% das escolas brasileiras sequer tem uma biblioteca. Isto culmina com a realidade de nosso pífio mercado livreiro quando considerado o potencial e consumo de uma Nação com quase 200 milhões de habitantes.

A mudança dessa realidade passa necessariamente pela conscientização e sensibilização. Para desenvolver-se e crescer a novos patamares intelectuais, culturais e de conhecimento a pessoa precisa necessariamente ampliar seu cabedal de conhecimento. A neurociência já pesquisou e decretou: a capacidade do cérebro humano é muito grande e uma vida inteira de estudo (e leitura) intensivo não seria suficiente para esgotar uma pequena fração de sua capacidade.

Exemplo e incentivo
Exemplo e incentivo

Para cultivar este hábito nas crianças e nos jovens é preciso que a família e a escola façam seu parte. Dando a eles a oportunidade de descobrir a verdadeira magia que há na leitura. Há obras de todos os gêneros para encontrar até o mais cético dos leitores. Um bom começo para despertar o interesse pode ser a contação de histórias, seguida de teatrinho, pesquisa ação, diálogo e interação mediados pelos clássicos da literatura.
Para dizer o mínimo, parafrasearei Mark Twain, escritor e humorista estado-unidense que viveu no século XIX, e escreveu aquele que é considerado o maior romance americano “As Aventuras de Huckleberry Finn”:  "Quem não lê tem pouca vantagem sobre quem não sabe ler."

Livro livre, um bem coletivo: leia, devolva ou passe adiante

FÁBIO MARQUES (REPÓRTER)
14.06.2013

Fortaleza ganha sua primeira biblioteca sem controle de empréstimo. No País, iniciativas parecidas ganham força

Parece utopia se falar em qualquer espécie de bem que possa ser compartilhado sem controle e por pessoas que não se conhecem. O projeto que será inaugurado hoje, em Fortaleza, ainda que pequeno, aposta nessa possibilidade, inserindo neste contexto um bem caro e imprescindível a qualquer cidadão: o livro.

Os livros de projeto, em Brasília, ficam à disposição do público em 37 paradas de ônibus

A Biblioteca Popular funcionará na Casa Vermelha, equipamento mantido por coletivos ligados ao Partido dos Trabalhadores, com inauguração agendada para 18 horas. Pelo sistema, os livros estarão dispostos em frente ao prédio, ao alcance de quem passar pela rua. Para o empréstimo, basta retirar o livro da prateleira, levar e ler.

O modelo é espelhado na experiência da Parada Cultural, projeto de Brasília mantido pelo Açougue Cultural, que disponibiliza os livros ao longo de 37 paradas de ônibus de uma mesma avenida, também sem necessidade de cadastro prévio ou qualquer outro mecanismo de controle. O leitor pode recolher o livro, ler durante o trajeto e devolver à frente, ou mesmo levar para casa, sem dia certo para a devolução. Também é possível adicionar títulos ao acervo, simplesmente deixando-os em uma das paradas. O mentor do projeto, Luiz Amorim, vem a Fortaleza para uma palestra sobre o assunto.

"Eu ouvi falar da experiência de Brasília e achei que era uma sacada simples de priorizar totalmente o acesso aos livros, abrindo mão até dos controles que são tão comuns nas bibliotecas", relata o vereador Guilherme Sampaio, que idealizou a Biblioteca Popular da Casa Vermelha. Ele aponta a facilitação do acesso ao livro como a principal sacada do projeto original. E sustenta que, assim como em Brasília, é possível fazê-lo funcionar na Capital cearense.

"Eu peguei um ônibus no corredor onde a biblioteca de Brasília está instalada, fui parando nas paradas, observando e conversando com as pessoas. Somente uma disse que não tinha devolvido o livro. O fato é que as estantes estavam sempre abarrotadas. Sobre esse controle. A resposta que me deu o idealizador do projeto, Luiz Amorim, resolve a questão: se uma pessoa levar e não devolver, é porque está precisando do livro".

Bookcrossing

O lema da versão de Fortaleza será "o prazo é seu, o livro é de todos", tarja que estará colada em cada título para estimular a ideia nos leitores. Ainda que em proporções bem menor que a de Brasília, com apenas um espaço no pátio de entrada da Casa Vermelha dispondo de mil livros, a Biblioteca Popular trabalha em torno de uma ideia de compartilhamento que ganha força no mundo. Uma experiência diferente mas seguindo princípios semelhantes é difundida através do site BookCrossing (www.bookcrossing.com). O portal possui um acervo difuso e volante, composto de forma colaborativa, organizado virtualmente e compartilhado por pessoas de diversos países.

"As vantagens em relação a uma biblioteca comum é que você não precisa de uma ´biblioteca em si´, a biblioteca é o mundo, a partir do momento que você liberta o livro, ele torna-se um livro viajante, e através do site você pode acompanhar por onde ela anda, quem o leu e etc", pontua o paulista Anderson Araújo, usuário do site e entusiasta da ideia.

Através do site, é possível pesquisar a relação de livros cadastrados e adicionar as leituras desejadas à sua lista de desejos. Quiçá, o livro pode lhe ser entregue em mãos, ou enviado pela pessoa com quem ele esteja. Pontos de troca também já começam a ser abertos para sistematizar o encontro entre os chamados "bookcrossers".

"Acho que não só em São Paulo, mas no Brasil o sistema ainda está engatinhando, pois existem poucos livros circulando, mas acompanhando pelo site, eu vejo que todo o dia acontece liberação de livros no Brasil, ou seja acho que teremos um resultado melhor a longo prazo, estamos apenas no inicio", avalia Anderson Araújo. Antes de conhecer o projeto, lembra, ele chegou a juntar acervo para montar uma biblioteca comunitária. Os livros foram cadastrados no site e, agora, são parte do acervo global.

Anderson diz que costuma recorrentemente "libertar" seus livros, como é nomeada a passagem do livro adiante, em espaços públicos ao acaso. Após cadastrar o título no site, deixa-o em locais como clínicas médicas, bancos de praça, para que outra pessoa o encontre e sinta-se estimulada a lê-lo. Uma etiqueta colada em uma das páginas ensina ao usuário que encontrar o livro a registrar-se no site e atualizar o status da obra, para que o dono anterior possa acompanhar por onde anda o livro liberto.

"Há um enorme descrédito das pessoas e também uma recusa a se desfazer de seus livros, por muitos motivos. Sabemos que quem é amante dos livros acaba criando um certo vínculo, que torna muitas vezes impossível da pessoa simplesmente deixar aquele livro que mudou a sua vida ao acaso num banco de praça", pondera. Ainda assim, garante Anderson, liberta pelo menos um livro por semana, e registra tudo no site diariodeumbookcrosser.blogspot.com.br). Atualmente, existem 28 pontos de bookcroosing no Brasil. O mais próximo de Fortaleza, fica na Universidade Federal do Semi-Árido, em Mossoró (RN).

Mais informações

Inauguração da Biblioteca Popular, com palestra de Luiz Amorim. Hoje, às 16 horas, na Casa Vermelha (Rua Osvaldo Cruz, 1318 - Aldeota)

Carne para o corpo, livros para a alma

Quando leu seu primeiro livro, o brasiliense Luiz Amorim já tinha 18 anos completos. E era, na verdade, uma versão em gibi de um livro de filosofia. A obra foi, no entanto, o ponto de partida de uma vida literária que já
rendeu alguns milhares de títulos, acervo que pertence hoje ao seu "T-Bone - Açougue Cultural".

Luiz Amorim vem a Fortaleza para a inauguração da Biblioteca Popular, projeto de acesso ao livro inspirado nas ações do seu "Açougue Cultural", em Brasília
E não pense que o nome do estabelecimento é uma licença poética - aos moldes da nossa centenária Padaria Espiritual. De fato, o estabelecimento vende carne. Na entrada e em uma sala anexa, no entanto, mantém mais de 10 mil livros. "Quando comprei o açougue em 1994, montei uma estante com um pequeno acervo, que aos poucos fui ampliando. No começo, o pessoal estranhou o açougue mexer com livro. Mas depois entenderam que os dois são alimentos, um do espírito, outro para o físico", lembra sobre o início da empreitada, há quase 20 anos.

Hoje, ele conta com o apoio de empresas como a Petrobras e o Banco do Brasil para manter as atividades culturais do açougue. Somente nas paradas de ônibus, chegam a circular, em média, dois mil livros por mês.

Ações

Luiz ainda assume o ofício de açougueiro como sua atividade principal. O braço cultural do comércio, no entanto, já expandiu as atividade e é responsável por projetos como a "Noite Cultural T-Bone", realizada desde 1998, e que já promoveu, em frente ao açougue, shows de mais de 500 artistas - entre eles, Milton Nascimento, Ed Motta, Tom Zé e Belchior.

A principal ação cultural da casa, no entanto, é de fato voltada para a leitura. "A minha formação intelectual é baseada na filosofia grega. A gente trabalha com a ideia de desprendimento das coisas, da arte, dos livros", explica. Luiz conta que chegou a investir 100% do lucro do açougue em atividades culturais.

Sobre a diversidade do público que consegue atingir, ele brinca: "nós somos o único açougue do mundo onde até vegetariano também entra. O cara não come carne, mas vem buscar cultura".

Fonte: Diário do Nordeste